sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Não gosto! Mas faço com amor!

É possível isto?
É sim.
                                                           (foto do armário do Geraldo)
Faz 54 anos que eu arrumo a minha casa com muito amor (mesmo destetando faze-lo) e depois que entendi que era necessário fazer isso, salvo alguma convalescênça,  nem "um só dia" o gê precisou me perguntar de novo "onde estão meus sapatos". (a pouco tempo meus maravilhosos filhos uniram forças pra pagar uma pessoa pra me ajudar. Fiquei muito feliz, mas, supervisiono de pertinho).


Não foi sempre assim...

Nossos 54 anos de casamento não foram feitos de 100% de expectativas correspondidas em meio a um mar de copos de leite brancos.

No inicio, enquanto íamos abrindo (aos pouquinhos) nossas respectivas bagagens, a expectativa "do outro" ia tendo que se moldar, e não isenta de decepções e frustrações por ver que na bagagem do outro não tinha tudo que esperávamos encontrar, e ainda tinha coisas que jamais imaginávamos.

Logo no começo o Gê se entristeceu profundamente ao ver que a organização vista na casa dos meus pais "não me acompanhou" quando mudamos pra nossa casa. Eu nunca prometi isto a ele, mas, ele vivia numa casa que tinha de organizada e limpa o que tinha de simples e, parece que quando foi procurar uma namorada, escolheu "pela organização da casa que ela morava" he,he,he.
Se deu mal o coitado, pois a responsável por aquele lar impecável era a minha mãe, não eu.

A expectativa frustrada dele desembocou em frustração pra mim também, pois "não sabendo lidar com sua frustração ele ficou duro, resmungão". E eu, acostumada com o meu pai, balizei minha procura nele, escolhendo o Gê pela sua doçura, pelo seu temor a Deus, pela sua seriedade e diligência, jamais suspeitei que a bagagem dele pudesse conter rispidez, frieza, etc.

E agora?
Manhêêêê!!!!

Você esta surpresa? Achou que a faculdade que eu fiz pra ser esposa me entregou pronta pro Gê? Não foi assim não, ali só começou o estágio... A formatura veio la pelo sétimo ano de casamento.

Pra minha sorte la estava ela, minha mãe, sabia e fiel seguidora de Cristo.
Fui chorar no colo dela. Reclamei da postura do Gê e ela, antes de mais nada, me convidou pra orarmos por ele, pelo nosso casamento, e pedir discernimento pra entender: "Porque ele havia mudado tanto em tão pouco tempo?"

Fizemos isto. Minha mãe foi me visitar sistematicamente, as vezes pela manhã (morávamos perto) as vezes pela tarde, as vezes pela noite, as vezes no meio da semana e as vezes no fim. E, como uma boa médica, não prescreveu nenhum remédio antes de examinar com cuidado o problema e suas causas.

Depois de alguns dias ela me chamou em sua casa e, com toda a doçura do mundo, me falou "por parábolas":

"...Laurinha, se você fizesse um esforço, fosse na roça do seu tio Carlos la no interior, colhe-se umas lindas alfaces, trouxesse com todo amor e carinho, e as entregasse ao Geraldo, e ele, recebendo-as, as jogasse de qualquer jeito, comendo parte e deixando parte estragando num canto e nem se desse ao trabalho de jogar no lixo. Como você se sentiria?"
Sem nem mesmo pensar, respondi: Péssima!

"...E, se o fim do mês chegar e você receber uma carta do banco ameaçando te despejar porque o Geraldo não pagou a prestação da casa?"
Com a mesma pressa de sempre, falei: Enforcava ele!

"...E se, "uma vez ou outra dentro do mês", ao acordar pela manhã você abrisse a geladeira pra pegar o leite e ele não estivesse lá, nem ele, nem a margarina, nem o queijo... Ao procurar o dinheiro pra ir a padaria percebesse que também não havia dinheiro?"
Comecei a ficar nervosa: Mãe, onde a Sra quer chegar? Este não é o problema, a sra não me viu reclamar disto, o Gê é responsável.

"Responda minha filha"
(Eu disse que ela era doce, mas não era frouxa)
Ta bom mãe, sei lá, eu surtava, voltava pra casa do papai.

Ai ela soutou o verbo:
"Filha, é desse jeito que o seu marido esta se sentindo... Frustrado, mal amado, não correspondido"

O quê??? A sra só pode estar brincando comigo!
A sra me visitou bastante nos últimos dias, viu a minha dedicação, viu o tanto de gente que eu recebo aqui em casa por causa dos discipulados que fazemos, e alem disso faço comida todos os dias pra ele, lavo roupa, limpo casa, espero ele sempre arrumada, meu Pai, como um homem deste pode se sentir mal amado?

Meu bem, pense nas repostas que me deu acima: " Você disse que se o seu marido deixasse de valorizar "um" esforço seu, ou se "uma vez" ele deixasse de pagar a prestação da casa, ou "se algumas vezes ele te deixasse sem dinheiro pra comprar comida, você, como foi mesmo que você e disse? Ah: "Se sentiria péssima, enforcava ele, e volta pra casa do seu pai" não foi isso que você disse?

Foi, mas, sinceramente, não entendo onde a sra quer chegar e como eu posso ter deixado o Geraldo assim.

Filha, na antiguidade os homens que sabiam caçar bem, eram muito cobiçados, se fosse bom caçador e ainda por cima "justo" valia ouro, podia ter quantas esposas quisesse. Nos dias atuais, o homem continua caçando, só que de um jeito diferente. 

Todos os dias, sem excessão,  o Geraldo sai da cama cedo, veste-se e vai caçar, todo o santo dia. 
E, alem de ser um bom caçador, ele é um homem justo, honrado, nem um só dia, neste inicio do casamento de vocês eu tenho noticia dele ter deixado de pagar uma conta, ou privado você de segurança, alimentação, vestimentas, etc.

Por outro lado, mesmo você tendo se tornado uma mulher fantástica, proativa, decidida, você ainda precisa aprimorar alguns detalhes. 

Nos dias que a visitei, você manteve a casa arrumada "quase todos os dias", você recolheu os sapatos do Geraldo que ele havia deixado na sala "quase todos os dias", você lavou as roupas e estendeu e recolheu "quase todas elas" (deixou apenas uma meia caída ao lado do tanque, e uma toalha mofando embaixo dele, você deixou roupa passada pra ele "quase todos os dias" (este foi quase mesmo, só faltou camisa um dia, e teve um dia que tinha camisa mas faltava um botão).

Na quarta feira passada, tive o cuidado de anotar, veja: "O Geraldo passou 2 horas procurando seus chinelos", parece bobagem, mas ele repetiu a mesma frase "5 vezes": "Laurinha, você viu meus chinelos?"  ( e o pior, cada vez que ele perguntou, você saiu a caça do chinelo, procurou, procurou, e nada). Você não se deu conta mas, quando o pessoal do discipulado chegou, e seu marido estava de calça e sapato (pra não ficar descalço) e um irmão brincou com ele: "Veio do sul Geraldo?" Ele abriu um sorriso amarelo e, pra piorar, você soltou: "O Geraldo tem destas coisas, não entendo ele".

Notei, nas vezes que cheguei quando ele saia ou chegava, que "com uma cara de desapontamento" ia juntando grampos de cabelo espalhados pela casa, suas tintas de tecido no chão da garagem, e até a cara de tristeza quando viu que 3 das quatro mesas plasticas que vocês tem estão manchadas de tinta e cola.

Minha filha amada, aprenda 4 coisas importantes:

1ª - Assim como uma mulher gosta de estar bem arrumada pra se sentir bem, o homem precisa estar com toda a sua vestimenta impecável pra se sentir confiante quando sai pra caçar. Se não ele se sente vulnerável.

2º - Diferente da mulher, que passa horas se arrumando, o caçador pula da cama e precisa que esteja tudo no lugar (Bainha, espada, funda, capacete, calças, escudo, etc) pois ele não tem horas pra se arrumar. Se falta um item, ele não fala, vai pra caçada assim mesmo, mas, se sente mal, e começa a pensar: "Será que adianta eu ir atras de caça? Se aquela que come da minha caça não se importa com as minhas ferramentas)

3º - Da mesma forma que caçou ontem pra trazer comida pra hoje, e hoje é "obrigado" a ir de novo (pois a família precisará comer amanhã), ele precisa que suas vestimentas e ferramentas estejam la outra vez, do mesmo jeitinho, impecáveis. Só assim ele vai sair confiante e motivado pra caçar "de novo".

4º - Cada caça, cada suprimento que o caçador traz pra casa, custou-lhe algum esforço, as vezes até um pouco do seu sangue, então: "Não faça pouco caso, não desperdice, não deixe jogado pelo chão, não trate como se tivesse aparecido ali, assim, sem esforço algum (isto é uma grande ofensa para um caçador).

O relacionamento de vocês tem um potencial enorme, o Geraldo tem sensibilidade pra aprender a corresponder seus anseios por romantismo, vocês teme ao Senhor que é a coisa mais importante de suas vidas, o problema de vocês é uma grande bobagem, me escuta, faça esse teste, presta atenção nesses quatro pontos que a mãe falou, e depois você me conta.

GRRRRRRRR, fiquei fula da vida!!!!
Como a minha mãe podia me dizer aquelas coisas? Quanto besteira, logo ela que eu tanto admirava... Como pode ser tão mesquinha? Engoli em seco, pra não desrespeita-la, e disse que ia tentar.

Quando ela se foi, chorei muito, muito, muito... Mas, la no fundo, o Espirito Santo me dizia que ela estava certa.

Quando o Gê chegou contei tudo isto pra ele, aos soluços, e perguntei: "É verdade isso Gê? É esse o nosso problema?"

Ele me disse: "Vamos orar..."
Em seguida, falou calmamente algo que nunca mais esqueci:

"Laurinha, eu odeio o meu trabalho, na verdade eu odeio qualquer tipo de trabalho, mas isto é perfeitamente entendível, pois o trabalho é uma "punição" pela desobediência do homem". 

"Por outro lado, se tenho que fazer, faço com gosto, com amor, pois sei que o resultado dele será a manutenção da nossa casa, nossa subsistência. Por isso faço, todo santo dia, com amor, com gosto"

"E, sim, a sua mãe esta certa, anseio que você complete dentro da nossa casa o trabalho que eu começo la rua. Pois de outra forma não teremos uma casa na rocha, apta pra servir o Senhor".

Chorei mais ainda, descontroladamente, o Gê ficou meio assutado, mas depois ele entendeu: Naquela hora tive a convicção de que o comportamento frio que ele estava tendo comigo e que eu tanto odiava era espelhamento do comportamento que eu estava tendo com ele, por isso chorei tanto.

Mas, passou! Juntei os sábios conselhos da minha mãe com as palavras doces do Gê, levantei a cabeça e, em poucos meses aquilo virou pra mim um senso, de maneira que ja fazia tudo com naturalidade. Mas, ainda "repito todo santo dia": "não gosto, mas se tem que ser feito, vou fazer com amor".

Até breve! (logo postarei mais algumas experiências)









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